A CORRUPÇÃO SOCIAL E O CARÁTER DE CADA UM
- Wilson Santos (Pastor; Funcionário Público
- 9 de mar. de 2015
- 4 min de leitura

O verbo corromper significa tornar pútrido. Não trataremos de tão ampla definição. O termo corrupção para fins desse ensaio deve ser entendido apenas como desvio de conduta em relação ao trato da coisa pública. É lugar comum que corrupção, nesse contexto, seja sinônima de desonestidade e improbidade administrativa. Pensamos que isso seja suficiente para delimitar o tema e apontar o rumo em que pretendemos caminhar.
A corrupção parece um ato irracional, pois os que a motivam e articulam não aparentam ter necessidades pessoais que justifiquem a usurpação do dinheiro público. Embora os indivíduos usados para dar efetividade à manobra sejam beneficiados com parcelas suficientes para aceitarem o risco do crime que cometem, o grosso da grana suja é destinado aos cabeças do esquema, os quais, geralmente, já possuem tudo que um ser humano normal possa necessitar.
Qual seria, então, o motivo pelo qual se corrompem? A tese que levantamos é que o objetivo não é outro se não a obtenção e manutenção do poder. O mecanismo é o seguinte: o dinheiro captado nessa atividade criminosa é aplicado no aliciamento de eleitores e de representantes do povo, isto é, destina-se a controlar os meios de legitimação do poder estatal.
E para que querem o poder?
Pode haver pelo menos duas razões pelas quais alguém queira o poder: fazer crescer a própria fortuna e alimentar o próprio ego ou implantar e manter determinada ideologia que julgue a melhor opção para o bem estar social.
No primeiro caso, não há desculpa possível. Quando alguém, detentor de poder estatal ou financeiro, faz desviar dos cofres públicos qualquer valor com o escopo de atender sua egolatria e enriquecer ilegalmente, comete crime do ponto de vista legal e pecado ético e moral. A conduta é reprovável e condenável em qualquer análise.
Já na hipótese de detenção do poder para fins de implantar ou manter uma ideologia política considerada a melhor opção ao bem estar social, a corrupção seria ancorada pelo paradigma “os fins justificam os meios” – pratica-se o mal para atingir o bem. Os desvios de recursos públicos estariam também amparados pelo princípio do mal menor. Fundamenta-se na crença de que o povo seja naturalmente corruptível – “se nós não o aliciarmos os outros o farão” – então, ainda que a corrupção seja prejudicial, seria mal maior deixar o poder cair nas mãos de outro grupo, com modelo político nocivo à nação.
Com essa retórica a consciência do corrupto se autojustifica. A crise atual se dá porque quase todo grupo que visa ao poder no Brasil usa as mesmas táticas para alcançá-lo, vestido do mesmo discurso de autojustificação.
Partindo daí, alguns acham que a corrupção política é um mal necessário. Para confrontar essa assertiva apontaremos dois de seus principais malefícios: 1) introjeção de uma cultura de corruptibilidade em todos os níveis da sociedade; 2) enfraquecimento das instituições do Estado Democrático de Direito.
Tais males são suportáveis por quanto tempo antes que consumam o próprio Estado de direito? Será que os supostos benefícios superam os malefícios? Deixaremos as respostas por conta do leitor.
Outra abordagem diz respeito à solução: É possível, na atual conjuntura, reduzir efetivamente a corrupção política no Brasil? Quais seriam os caminhos?
Analisemos alguns remédios possíveis:
I - Financiamento público das campanhas e lei que proíba a contratação de apoiadores (os famosos cabos eleitorais). É provável, no entanto, que a compra de votos continuaria a ocorrer na clandestinidade. II - Educação que leve o cidadão a recusar valores ou vantagens em troca de seu apoio e voto. Nesse caso, é bom que se diga que a alienação já ocorre hoje em todos os níveis de escolaridade, o que demonstra não ser por falta de educação que os cidadãos se corrompem. III - Leis que agravem os crimes de corrupção e aumentem sua punição. Parece uma proposta falida, pois aplicar tais leis ou mesmo aprová-las seria quase infactível, uma vez que essas tarefas estão nas mãos dos próprios corruptos.
Ufa! A coisa não é tão simples. A corrupção, pelo que vimos, pode estar também ligada ao desejo egoísta e individualista inerente à própria natureza humana o que faz com que muitos eleitores prefiram as vantagens individuais ao bem coletivo. Por conseguinte, corruptores e corrompidos são “farinha do mesmo saco”. Do ponto de vista humano, parece não haver mesmo solução.
Sob a óptica do Céu
“Corrupção social ou estatal é caracterizada pela incapacidade moral dos cidadãos de assumir compromissos voltados ao bem comum. Vale dizer, os cidadãos mostram-se incapazes de fazer coisas que não lhes traga uma gratificação pessoal.” (Calil Simão, P.h.D. Advogado, professor, escritor e jurista brasileiro)
Considerando essa incapacidade moral do ser humano, passemos então a buscar ajuda sobre-humana. O apóstolo Paulo declarou em 1Timóteo 6:10 que o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males. O dinheiro, nesse contexto, não deve ser entendido como mero símbolo monetário, mas como possibilidade de satisfação das necessidades mais básicas e dos desejos mais efêmeros. Representa, então, a expressão máxima do endeusamento do “eu”. É com base nesse conceito que o amor ao dinheiro figura-se como a raiz de toda espécie de males e é recomendado não amá-lo. Não se trata, porém, de prescindir à própria subsistência, mas de não amar a si mesmo além da medida. E qual seria essa medida? Isso é respondido por Jesus.
Em Mateus 22:39 o mestre afirmou: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Não é o amor próprio que Cristo ensina aqui, mas que não se deve amar a si mesmo em maior intensidade que ao próximo. Uma aplicação prática desse princípio pode ser vista na orientação “tudo que quereis que os homens vos façam, façais vós também a eles”.
Mas de que forma esse princípio pode ajudar a resolver um problema político da sociedade?
Não pode, a menos que todos os entes sociais igualmente o pratiquem. O problema da corrupção na esfera social e estatal não se resolve por intervenção divina. Isso porque a interferência dos céus não é social nem política, acontece no plano pessoal, ou seja, Ele age transformando o caráter do indivíduo. A corrupção, por sua vez, ocorre no contexto social. Mas é bom lembrarmos que a solução dos problemas coletivos é resultado da interação de várias ações individuais e que a cultura social é feita pelo caráter de cada um, o meu, o seu, o nosso.
PR. Wilson Santos
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