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O RELATIVISMO E A VERDADE CRISTÃ

  • Pastor Wilson Santos, Palmas/TO.
  • 2 de abr. de 2015
  • 4 min de leitura

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A verdade cristã também é relativa?

"Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!" (Is 5.20)

Recentemente uma imagem que circulou amplamente nas redes sociais e na TV mostrou como a verdade pode ser relativizada. Tratava-se da foto de um vestido que para alguns se apresentava dourado e branco enquanto que para outros era preto e azul, respectivamente. Mas, afinal, qual era a cor do vestido? Depende. A realidade, nesse caso, é feita pela percepção pessoal, e essa percepção da realidade constitui o pressuposto particular de verdade de cada um. Confirmamos, então, que a verdade pode ser relativizada. Mas será que isso se aplica a todo e qualquer tipo de verdade, inclusive a verdade cristã? É o que pretendemos descobrir.

Pode-se dizer que o relativismo nasceu na Grécia antiga e teve como patrono o sofista Protágoras (490 a.C – 415 a.C), autor da famosa frase “o homem é a medida de todas as coisas”. Esse pensamento foi reafirmado por grande quantidade de filósofos em todo o mundo desde então. O pensamento sofista pretendia mostrar que a verdade objetiva não existe, mas que a veracidade é criada a partir dos argumentos, sendo sempre relativa ao sujeito que argumenta. Assim, para os sofistas, também os valores morais são relativos, não existindo objetivamente o bem ou o mal, a justiça ou a injustiça, o certo ou o errado.

Sócrates (469 a.C – 399 a.C) fazia o caminho inverso, buscando a essência das coisas. É sua a frase "o princípio dos raciocínios é constituído pela essência das coisas do mundo". Combateu os sofistas, pois defendia a existência da verdade em si mesma. Chegou a conceber a existência de um só Deus, contrariando a tradição mitológica grega dos deuses do Olimpo, baseada na observação da natureza. Seu raciocínio ainda hoje é seguido por inúmeros pensadores.

Voltando para a questão do vestido, percebemos que algumas coisas ou situações podem ser de fato relativas. Mas façamos uma analogia simples a fim de analisarmos em que grau a percepção da realidade pode, de fato, ditar o que é verdadeiro. Imaginemos um precipício de cem metros de queda livre e dois indivíduos na sua borda. Para um deles a profundidade é de apenas um metro, pois sua percepção assim lhe diz, e pretende saltar dali sem paraquedas. Para o outro, o abismo possui os exatos cem metros. Este tenta incansavelmente convencer aquele a não pular. Aqui há grave conflito, pois ambos têm o testemunho claro de sua própria percepção e acreditam firmemente estar de posse da verdade. Ele saltou e, para sua surpresa, a queda foi fatal. Mas como saberia que estava errado?

É uma simplificação um tanto quanto grosseira, mas aponta para o fato de que existe um sério perigo no relativismo, especialmente no que concerne ao destino humano (temporal ou eterno). Consequências são geradas por causas, e as decisões de um ser humano são causa de infortúnio ou felicidade, para si mesmo e para outros. E é com base em fundamento que se acredita verdadeiro ou falso que se tomam decisões e se realizam ações preponderantes na vida, por isso, uma visão clara da verdade em si mesma, existente nas coisas e nas circunstâncias, pode definir o futuro de alguém.

Nesse mesmo sentido se apresenta a verdade cristã. Enquanto as religiões, em sua maioria, apresentam forte característica esotérica, ou seja, o indivíduo fundamenta-se na experiência pessoal para formar sua base doutrinária e seu pressuposto de verdade, o cristianismo bíblico é uma construção feita pela revelação histórica da relação de Deus com a humanidade, uma revelação pública. É uma construção fundamentada na aletheia[1], não se trata de uma verdade relativa. Para o cristão, o que vale para um indivíduo deve valer para todos e as experiências pessoais devem ser julgadas pelas referências da revelação de Deus na história. Nas religiões esotéricas, como em todas as outras, existe uma verdade geral que é assumida como dogma central, mas esta pode ser adequada ou até mesmo modificada por cada indivíduo, a partir de suas experiências pessoais com a religião. Já no cristianismo bíblico isso não se aplica.

No cristianismo, a verdade não pertence ao cristão, ele é quem pertence à verdade. Não há nessa relação esforço para encaixar a religião na experiência, pois a própria experiência deve ser submissa à revelação, sob pena de estar distorcida pela percepção. Desse modo, é fato que o cristão não constrói uma verdade, submete-se a ela. O cristianismo não é uma religião em que seus adeptos procuram fazer valer sua vontade ou suas experiências, mas uma relação em que o convertido nega-se a si mesmo a fim de crer na verdade. Logo, não se trata de defesa do próprio conhecimento, mas de submissão e confiança na revelação de Deus.

A relação do cristão com a revelação nem sempre é fácil, pois a razão algumas vezes parece ser oposta. Contudo, isso não significa que o cristianismo seja irracional, pelo contrário. Do ponto de vista cristão, é impossível à razão pura conhecer a verdade completa e tampouco qualquer verdade divina. O cristianismo critica a razão, a percepção e a consciência, a fim de libertá-las das densas trevas do engano e gerar a fé. Uma vez liberta pela fé, a consciência poderá compreender perfeitamente a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que a alma possa encher-se de toda a plenitude do conhecimento da verdade de Deus.

O problema em se relativizar algumas coisas são as consequências das decisões tomadas com base nelas, pois pode haver grandes precipícios à frente. Assim, concluímos que cabe o relativismo para aquilo que é verdadeiramente relativo e a verdade para aquilo que é verdadeiro.

[1] termo utilizado para designar a verdade em si mesma, a verdade dos fatos. Foi utilizado na septuaginta para traduzir para o grego a palavra que Jesus usou para descrever a verdade em João 18:32 – “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

 
 
 

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